Pais e professores garantem que não há violência, mas psicóloga condena
O relógio marcava 18h quando entramos na academia Team Moraes, no
Jardim Carioca. Em um tatame, 11 crianças (três estavam ali pela
primeira vez) se aqueciam, concentradas. Começava ali a terceira semana
de aulas de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, em inglês)
só para baixinhos. A iniciativa, pioneira no Rio, foi idealizada pelo
professor Diego Moraes quando ele passava uma temporada no Mississipi,
nos Estados Unidos, ensinando jiu-jítsu no centro de treinamentos de
Alan Belcher, um dos principais lutadores do Ultimate Fighting
Championship (UFC), o maior torneio de luta do mundo.
Moraes conta como o projeto, que batizou de MMA Kids, ganhou forma na Ilha:
—
Estava me dirigindo para um treino com Belcher e parei ao ver uma aula
divertida, com cerca de cem crianças. Os pais acompanhavam tudo atentos.
Fiquei impressionado com a cena e achei que a iniciativa funcionaria no
Brasil. Voltei e conversei com meus sócios. Um ou outro ficou
preocupado, mas expliquei que os alunos não lutariam entre si, trocando
socos e pontapés. Basicamente, simulariam os golpes.
O professor
da garotada, Bernardo Guimarães, luva de prata no savate — graduação
máxima do boxe francês — e faixa roxa de jiu-jítsu explica o principal
conceito das aulas de MMA Kids:
— É um treinamento lúdico, visando
à socialização das crianças. Esta é a nossa proposta. É claro que vou
ficar satisfeito se sair um campeão daqui, mas, agora, o foco está no
ensino do autocontrole e da disciplina. Quero, por exemplo, que quando o
aluno ficar mais velho e chegar sua hora de procurar um emprego, ele
saiba controlar o nervosismo e a ansiedade.
Guimarães, que já
tinha experiência em aulas para crianças — ele ensina Biologia numa
escola estadual —, diz ainda que o fato de o MMA estar fazendo sucesso
na televisão o ajuda:
— Elas me surpreenderam. Achei que chegariam aqui cruas, mas, com a transmissão de lutas pela TV, já sabiam algumas posições.
Porém,
há quem seja contra a iniciativa. Maria Luiza Bustamante, doutora em
Psicologia Infantil e membro do Instituto de Psicologia da Uerj, não
considera que as aulas de MMA sejam benéficas para a criançada.
— É
preciso que fique definido qual tipo de luta será ensinado. Alguns,
como boxe e suas variações diretas, não são indicados. Mesmo que não
haja contato físico, há modalidades que não devem ser praticadas antes
da adolescência. Outras formas de exercícios são mais produtivas e
criativas. Essas aulas são contraindicadas para crianças de até 10 anos.
Elas têm dificuldades para entender a diferença entre esporte e
violência — afirma Maria Luiza.
Moraes, no entanto, cita os Estados Unidos para justificar seu projeto:
—
Sendo pioneiro, sabia que estava sujeito a críticas. Nos Estados
Unidos, aulas de MMA para crianças já são comuns. Aqui, elas vão
aprender os movimentos, as posições e muitas brincadeiras relacionadas
ao esporte.
Para os pais dos alunos matriculados na Team Moraes, a aula está aprovada.
—
Vim assistir ao treino hoje porque o nome, MMA Kids, assusta um pouco.
Mas vi que não tem problema algum. Estava até comentando com meu marido
que, em casa, nossos filhos só sabem brigar, aqui, um está ajudando o
outro. Gostei do que vi — afirma Luciana Portugal, professora e mãe de
Luis Felipe e Maurício, de 12 e 8 anos, respectivamente.
O empresário Maurício Moreira, pai de Mario Souto, de 11 anos, dá força para o filho seguir no esporte:
—
Meu filho começou a ver MMA pela televisão. Um amigo da escola se
matriculou na academia e ele me pediu para vir treinar. Antes, conversei
com os professores, perguntei se teria soco na cabeça, essas coisas. A
resposta foi “não” e o coloquei na aula. A mãe apoia, agora ele chega
cansado do treino e dorme mais cedo. E as aulas também vão ser boas para
meu filho aprender a perder.
Natan Alexander, de 11 anos, conseguiu convencer a mãe a matriculá-lo e demonstra muita empolgação ao falar do esporte.
— Minha mãe não queria que eu fosse lutador. Hoje, está orgulhosa de mim — vibra o menino.
Fonte: Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/zona-norte/polemica-no-tatame-aula-de-mma-para-criancas-divide-opinioes-4504648#ixzz2P8MH9oeL
MMA para crianças: quais os riscos?
Você já deve ter reparado que a luta do momento é o MMA, ou Artes Marciais Mistas. O assunto virou tema de rodinhas e o campeão Andersom Silva virou o mais novo ídolo dos brasileiros. A fama do MMA está tão grande que já foram lançados livros, filme e até bonecos dos lutadores, sem contar que as academias estão lotadas por conta da procura pela prática do esporte.
Com a repercussão mundial, o MMA
está ganhando fã de todas as idades. E a grande preocupação são as
crianças, que estão se interessando em praticar a modalidade. Um vídeo
do Amenian Fighting Championship (ArmFC), da Armênia, encontrado na
internet, coloca dois garotos, Minas Avagyan, de seis anos, e Hayk
Tashchyan, de sete, lutando no octógono como se fossem profissionais.
Esse vídeo espantou muitos pais e grandes lutadores de MMA. Para Álvaro Junior, gerente técnico da academia Runner
crianças não podem lutar MMA, mesmo sendo supervisionada pelos pais. "A
criança, por melhor que seja a sua criação, tanto pela família quanto
pela escola, não está preparada psicologicamente e fisiologicamente para
assimilar as técnicas de combate do MMA. E se ela já tem uma noção de
alguma arte marcial e já passou por todos as fases de treinamento, eu indico o MMA somente a partir dos 18 anos", defende.
Ana Pozza, psicoterapeuta familiar, de casal, adultos e adolescentes também discorda da prática do MMA por crianças e enumerou os danos que a prática pode causar nos pequenos:
1.
A criança irá desenvolver a musculatura para além do que ainda é capaz
de usar, e pode não ter noção da sua força e das consequências ao
utilizá-la. Poderá machucar seriamente um amigo da mesma idade, sendo
que somente conheceria as consequências dos seus atos após uma
fatalidade, pela qual não tem condições de arcar.
2. A criança poderá abusar do poder que a sua força e as técnicas de
luta lhe oferecem, encontrando meios de liderar os demais amigos e usar
de manipulações e violência, provocando até mesmo situações de bullying.
3.
Como a luta desenvolve a competição, a criança poderá se sentir exigida
a corresponder às expectativas que seu corpo e seu psiquismo não estão
preparados, gerando um abuso físico do adulto que a leva a tal prática.
Assim como um autoabuso, em que ela desejará superar a si mesma e aos
outros, poderá gerar situações de baixa autoestima.
4. Dependendo da forma como for orientada, a criança poderá crescer com a ideia de que a prática da violência
é uma forma de resolução de conflitos, ou mesmo crescer com a ideia de
que competir é mais importante do que cooperar e aprender.
5. A
criança pode participar de um grupo de luta no qual não consegue
desenvolver-se tanto fisicamente e, em meio a crianças mais fortes,
poderá se sentir constantemente diminuída, já que é uma prática em que a
força é fundamental. Poderá então manifestar irritação e baixa
autoestima e passar a lutar com crianças menores ou mais fracas para
poder se sentir melhor e mais forte, buscando assim ser aceita no grupo
da luta;
Fonte: http://vilamulher.terra.com.br/mma-para-criancas-quais-os-riscos-8-1-55-1009.html
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FONTE: YOUTUBE
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